“O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”. A frase do dramaturgo inglês William Shakespeare expressa bem o caráter do deputado Adriano Sarney (PV), neto do ex-senador José Sarney (PMDB-AP). Escorado pelo poderoso sistema de comunicação da família, Adriano grita aos quatro cantos que o Maranhão precisa de Intervenção Militar. Mas o mesmo deputado que pede o Exército para o Maranhão corre da Polícia Federal em Brasília.
Em 2009, a PF descobriu que José Adriano Cordeiro, vulgo Adriano Sarney, operava um esquema do crédito consignado no Senado, quando seu avô era presidente da Casa, e passou a investigá-lo. Descobriu que a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, empresa de Adriano, recebeu autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos aos servidores com desconto na folha de pagamento.
A PF investiga suspeitas de corrupção e tráfico de influência envolvendo o negócio. Filho mais velho do deputado Zequinha Sarney (PV), Adriano disse à época que o avô sabia que ele tinha uma empresa especializada em intermediar empréstimos consignados em Brasília, mas nega que Sarney tivesse conhecimento de sua atuação no Senado.
Pouco depois de ser registrada, a Sarcris já estava autorizada a representar bancos de peso. A primeira autorização foi concedida pelo HSBC, o banco que Adriano diz ser seu principal parceiro nos negócios no Senado e também em outros órgãos públicos, como o Superior Tribunal Militar e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF).
Em pelo menos dois casos, os bancos credenciaram primeiro a empresa de José Adriano e só depois é que foram autorizados a operar crédito consignado no Senado. O HSBC credenciou a Sarcris em maio e em dezembro assinou o ato que o autorizou a entrar na Casa.
A localização da Sarcris não existe nos endereços que declara nos documentos oficiais. No papel, a Sarcris funciona nas salas 516 e 517 do Edifício Serra Dourada, prédio de salas comerciais no Setor Comercial Sul de Brasília. Os funcionários do prédio dizem que a Sarcris mudou dali. No novo endereço, um prédio no Setor de Rádio e TV Sul, não há nenhuma empresa com o nome Sarcris. Num edifício comercial na Asa Norte, na sala onde deveria funcionar outra empresa de Adriano Sarney, a Choice Consultoria, funciona na verdade um escritório de advocacia.
Ocorre que o neto de Sarney diz ser economista. As investigações seguem a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público. E Adriano pode ter a polícia batendo a sua porta mais cedo do que imagina.
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