terça-feira, 25 de julho de 2017

Ele saiu de Poção de Pedras em pau-de-arara com 9 anos e hoje é sucesso em todo Brasil

Itamar Veras. Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto
Foram três dias e três noites em cima de um pau-de-arara para o garoto Itamar Veras, na época com 9 anos de idade, chegar a Mato Grosso junto a sua mãe, Helena Veras, em busca de uma vida melhor. O destino era o garimpo de Peixoto de Azevedo, onde ele pegou dois tipos diferentes de malária antes de sair em peregrinação, ainda em busca de ouro, por outras cidades do estado. Hoje, ele já conhece os 141 municípios, mas por meio de outra busca: levar a mensagem de Deus, com as músicas do Ministério Louvor Aliança, do qual é vocalista há onze anos.

Itamar nasceu em Belém dos Lages, município de Poção de Pedras - MA. A viagem para Mato Grosso foi quando sua mãe tinha apenas 26 anos de idade, e os dois tiveram que deixar para trás uma irmã, que só conseguiram buscar anos depois. Saindo de Peixoto de Azevedo, os dois ainda trabalharam no garimpo de Colíder, de Bocaiuval e na Serra de São Vicente, antes de o garoto conseguir emprego no comércio, na região do CPA. A mãe continuava no garimpo, agora na região de Água Fria, em Chapada dos Guimarães.


“Eu nasci em um lar cristão, era da Assembleia de Deus, mas durante os anos que passei no garimpo não tinha como frequentar a igreja. Quando comecei a trabalhar no comércio, um amigo me convidou para visitar a Igreja dele, a Igreja Batista do Calvário, no bairro Santa Cruz. Foi lá que eu comecei a cantar no Ministério do Louvor”, lembra Itamar.

No início, o grupo se apresentava somente na Igreja. “Mas eu comecei a me incomodar de tocar todo domingo para as mesmas pessoas, e fui falar com o pastor. Disse pra ele que a gente precisava deixar de pescar no aquário e ir para o rio. Ir cantar para quem precisa, em colégios, em presídios, em outras igrejas, e ele abençoou”.

Continua...

Aqueles que concordaram com a ideia acompanharam Itamar, mas no início não havia pretensão nenhuma de gravar um CD, muito menos um DVD. “Começamos a tocar muito e surgiu a ideia de gravar um CD de músicas antigas, resgatar um pouco das modas antigas. E o nosso CD não tinha nem foto na capa, porque eu não queria vincular a minha imagem. Eu queria só que a mensagem chegasse até as pessoas”.

Foi quando a música “Sou contra o mal que há em mim” tocou na Band FM que a banda percebeu a dimensão que tudo tinha tomado. Depois dela, outras rádios passaram a reproduzi-la e as pessoas passaram a ficar curiosas em saber quem era aquele grupo. O Louvor Aliança, então, gravou o primeiro CD profissional, depois o primeiro DVD, e hoje já estão no terceiro DVD e quarto CD.

Explosão gospel

Foi com a música “Noites Traiçoeiras”, um hino antigo que estava ‘esquecido’, que o grupo alcançou sucesso no Brasil inteiro. Antes disso, o Louvor Aliança já se apresentava em cidades de Mato Grosso, Rondônia, Goiás e outros estados mais próximos.


Em 2013, no entanto, eles foram convidados para tocar no programa do Raul Gil, e depois disso os convites se expandiram. “Quando a gente recebeu o convite do Raul eu percebi que grande parte do Brasil já estava conhecendo a gente”, lembra. “Quando aparecemos lá, o nosso site travou no primeiro dia. E aí começamos a sair para todo o país”.

Com o crescimento da popularidade, vieram também as críticas. Principalmente em relação aos integrantes da banda. “As pessoas me criticavam porque todos que tocavam no Louvor Aliança não eram convertidos, não eram certinhos, eram todos ‘carga torta’”, conta Itamar.

Na época, os líderes religiosos estranharam a atitude do vocalista. “Eu colocava um cara pra tocar com a gente e ele também tocava na noite, usava drogas, usava bebidas, mas eu entendia que se eu o trouxesse pra perto de mim, ia haver uma mudança na vida dele não com a minha pregação, mas com o meu exemplo”.

Um dos exemplos citados por Itamar é do produtor da banda, Paulo Kid. “Quando Paulo começou a trabalhar conosco ele disse que fazia bico, e se ganhasse mil reais, gastava 800 em maconha e 200 em comida. Eu nunca disse pra ele, deixa de beber, deixa de fumar, corta o cabelo. Eu disse, cara, você quer andar com a gente, vamos andar com a gente! Hoje ele é casado, pai de família, tem a casa dele, tem o carro dele”.

Com o público, a relação também sempre foi de incentivo. O vocalista se lembra de uma vez em que estava em um programa de rádio e recebeu a ligação de uma garota agradecendo ao Louvor. “Ela me contou que tinha morrido o pai e a mãe, e eles eram três irmãos e estavam em pé de guerra, já não se falavam por causa da herança. Ela disse que entrou em depressão e estava chorando um dia em casa e disse: ‘Deus, fala comigo, me dá uma luz!’, e nesse momento entrou uma música do Louvor Aliança, chamada Noites Traiçoeiras, no rádio, e ela começou a ouvir, chorar, e ligou para o irmão, e eles fizeram as pazes e viram que não valia a pena brigar”.

Apesar de muitos fãs atribuírem as bênçãos ao grupo, Itamar recusa esse título. “Eu acredito que Deus usa as pessoas”, afirma. Com essa ideia, o Louvor sempre visita presídios, escolas e bairros carentes, cantando para quem eles acreditam que precisa ouvir a mensagem. Estes locais extrapolam, inclusive, a denominação da igreja. “Já cantamos na Igreja Nossa Senhora dos Homens, já cantamos em um Centro Espírita de Várzea Grande. Eu prego a palavra de Jesus Cristo, independente de nome de Igreja. Eu sempre digo, que se a placa da Igreja fosse importante, estaria do lado de dentro”.

Shows para multidões


Em 2015, o show do Louvor Aliança fechou a programação do Festival de Inverno, em Chapada dos Guimarães, e o público foi um dos maiores. “A gente achou que ninguém iria, porque era o último dia, domingo... mas lotou! Em 2016 a organização queria que nós fechássemos de novo, mas não tínhamos disponibilidade de agenda e eu indiquei o Kleber Lucas. Desta vez, já no começo do ano eles ligaram pedindo pra gente reservar a data”.

Além de fechar a programação do Festival de Inverno 2017 – que trará nomes como Milton Nascimento, Caetano Veloso e Roberta Miranda, o Louvor Aliança cantou também na 53ª Expoagro, e continua com as apresentações em igrejas. “Nós chegamos a fazer vinte shows por mês, mas era muito, e estava começando a atrapalhar nossa relação com a família. Aí diminuímos para três por semana, e hoje temos um limite de dois por semana”, conta Itamar. Segundo o vocalista, todos os integrantes da banda têm outras ocupações além da música.

No ano passado, em setembro, o grupo gravou o último CD e DVD, chamado ‘Onde Tudo Começou’, no teatro da UFMT. Agora, o próximo projeto, chamado ‘Muito mais acústico’, é direcionado para a internet. “Vamos gravar alguns vídeos em estúdio em um formato reduzido, só com o vocal, a bateria, o baixo e o violão, e colocar no Youtube para mostrar que é possível levar o Louvor Aliança para tocar de outra forma”, explica. “Porque às vezes tem um pastor de uma igrejinha pequena que não consegue levar toda a nossa equipe, de dez pessoas, pagar o aéreo de todo mundo. Então eu quero mostrar que é possível fazer desse jeito”, finaliza.

www.olhardireto.com.br/Blog Carlos Barroso


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