segunda-feira, 18 de setembro de 2017

“Ai Que Vida”, de Cícero Filho, completa 10 anos; veja o emocionante depoimento do cineasta relatando as dificuldades da produção do filme

Cícero Filho dirigindo a peça teatral 'Paixão de Cristo' em Poção de Pedras, em março de 2015
Quando de se referir a alguém que ousou romper barreiras para produzir cinema no interior do Maranhão e Piauí, revolucionando o conceito que se tinha da contribuição nordestina para o cinema brasileiro: este alguém é o jovem jornalista e cineasta Cícero Filho. Há 10 anos seria concebido o estopim de sua carreira intitulado “Ai Que Vida”, que ganhou as telas composto por pessoas da própria comunidade, e levou o nome de nossa cultura ao mundo, arrancando risos e suspiros através de personagens cômicos que se consagraram no gosto popular, como o “Zé Leitão”, “Cleonice”, “Gerode” e “Charleni”.

Relembrando as dificuldades enfrentadas no decorrer do processo, Cícero postou em seu perfil um depoimento emocionante e arrebatador:


O roteiro? AI QUE VIDA! Quanto em caixa para realizar a produção? Apenas o meu salário de estagiário, que na época não passava de setecentos reais. Eu não tinha noção do que estava prestes a enfrentar tão pouco das consequências. Lembro-me como se fosse hoje do diálogo com minha querida amiga Irisceli Queiroz, que no longa deu vida a Charlene. “Tenho aqui um roteiro em disquete. Queria que você lesse, é engraçado e bem nordestino. As falas são cheias de expressões da gente, e se gostar, poderíamos gravar.”, entreguei o disquete para Irisceli, logo leu o roteiro, gostou, mas deixou claro do quanto difícil seria transformar aquele roteiro em realidade, daí falei “Olha, ano passado realizamos ENTRE O AMOR E A RAZÃO, e todos falavam que não conseguiríamos, então acredito que este não será diferente. Embarca nessa?”, perguntei, ela prontamente, como companheira de muitas batalhas disse ”SIM”, suas palavras foram como combustível para a minha vontade de realizar mas um filme. 

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Reuni mais pessoas, apresentei-lhes o roteiro, fui formando alianças a favor da ideia, conseguindo apoios, convenci minha chefe, na época Ana Kelma Gallas a ceder as câmeras da Faculdade Santo Agostinho, e achava que tudo estava resolvido, mas não foi bem assim, pois em cinema nada é a curto prazo. Cinema é um quebra-cabeças complexo, cheio de peças que nem sempre se encaixam. As dificuldades aumentaram, se tornando constantes, mas todas elas enfrentadas e vencidas. Eram dificuldades que iam desde conseguir equipamentos como câmera, microfone, criar eu mesmo minhas luminárias, até mesmo passagens para translado dos atores, das noites em claro decupando fitas (Mini-DV) e editando com o meu parceiro David Marinho... 

Aprendi que a vida é feita de escolhas, e no momento em fazer ou não fazer o filme eu segui meu coração, optei em tirar do roteiro os personagens e situações. Fui firme em minhas decisões, contrariei a minha situação financeira desfavorável e os conselhos dos amigos de que fazer cinema no Piauí e Maranhão era loucura, impossível. Vivi cada etapa com a certeza de que as dificuldades na PRÉ-PRODUÇÃO, PRODUÇÃO e PÓS-PRODUÇÃO passariam, e de certa forma passaram, pois o tempo passa, nos deixando apenas os momentos e os sentimentos. Surpreendentemente, AI QUE VIDA ganhou o mundo desde o lançamento, segue a margem da indústria cinematográfica implacável e cruel, adentrou nos lares e coração das pessoas, pessoas essas que se identificaram com o enredo abordado, que sentiram as emoções dos personagens.

Após anos sem assistir ao filme, nessa manhã sentei-me na frente da TV, liguei o aparelho de DVD e coloquei a mídia para rodar. Vi o filme com distanciamento crítico, com o olhar de expectador, e confesso que chorei, ri e me senti perturbado com as cenas retratadas naquele filme, e que de certa forma não está distante de nossa realidade. Atualmente, o país vive mergulhado em escândalos políticos, crise moral e ética. Prefiro acreditar que num futuro positivo. Esperança é fundamental nessas horas, aonde tudo parece sem solução. O novo virá, e o amanhã a Deus pertence.

OBRIGADO meu bom DEUS pelas ricas oportunidades, pelos amigos que juntos formaram a corrente positiva, pelos poucos patrocinadores que incentivaram o tal Cicero Filho de Poção de Pedras, pela família por apoiar na hora em que ninguém mais apoiava e por mim mesmo, por ser determinado e não desistir no meio do caminho.


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