terça-feira, 30 de julho de 2019

Coluna: eleição no interior é a nossa copa do mundo


“A semelhança não se resume ao simples fato de que as duas só aconteçam de 4 em 4 anos.

Nossa cidade, quase sempre calma, se agita. Tinge-se de cores: cartazes, faixas e bandeiras. Olhares desconfiados, sussurros nas esquinas, população dividida. Dormir torna-se impossível, carros de som rodam o dia inteiro com as quase sempre insuportáveis músicas de campanha.

Sobram politiqueiros que acreditam ser verdadeiros analistas políticos, apenas suas ideologias estão exatas. Tem também os eternos puxa-sacos que brigam até com a mãe pelo seu candidato e parecem dormir na casa dos políticos.

Candidatos prestativos e sorridentes batem nas portas, comendo pregado com sardinha e dizendo que adoram arroz branco com ovo.

Há quem mude de lado e por isso são tachados eternamente de traíras, beijus ou cabreiros.

E as pesquisas? Feitas pelo maior órgão especializado em descobrir o pensamento das pessoas: a contagem de cartazes nas casas. Aqui o índice de confiança é 100%.

Os mais velhos debatem nos senadinhos espelhados nos quatro cantos da cidade, enquanto os mais jovens compartilham nas redes socias que “fulano é nosso, sicrano é deles”.

Paira no ar um clima hostil, as pessoas esquecem parentesco, amizade e as igrejas e escolas ficam vazias em dias de arrastão.

Buscam-se os candidatos na Estrada da Vitória, seja no sol escaldante de meio-dia ou no sereno da noite, não importa o horário, foguetes cortam o céu anunciando a boa nova.

Ouve-se falar que alguém apostou uma moto aqui, outro deu uma diferença de 1000 votos pra assustar ali, tem até boi ‘casado’ no pasto.

Reina um surto de ideias fixas, as pessoas não conseguem mudar de assunto.

Passará a política e para a população que para as quais, eleição é melhor do que copa do mundo, a vida, se não piorar, continuará exatamente igual.

Após o resultado nas urnas, malas são arrastadas pelas ruas e couro de jacaré vira artigo de luxo, surge uma ressaca moral e as especulações do novo secretariado e dos cargos de confiança duram até a posse.

Depois disso, vem a decepção que se estampa na face da maioria das pessoas que acreditaram que agora teriam vez, ledo engano. Foram iludidas mais uma vez? Que nada! Lá no fundo, desconfiavam que seria assim.

E essa ciranda acontece em todas as eleições e nessa não será diferente e porque seria? Como gado ferrado no lombo, somos marcados com um cartaz em nossa casa.

E como diz Zé Ramalho:

“Êeeeeh! Oh! Oh! Vida de gado, povo marcado. Povo feliz!”

E viva a nossa republiqueta!”

Por Nelson Jonas


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