Os prefeitos
do Maranhão foram surpreendidos no início do mês pela inclusão dos seus
municípios numa suposta lista de fraudadores, responsáveis por desvios de
recursos da educação do ensino fundamental, no escopo de suas competências.
Como não passava de uma fake news com claros propósitos, a lista apócrifa caiu
no esquecimento, mas causou incômodo.
Os ecos da
lista chegaram ao Ministério Público Federal e aos ouvidos do procurador Juraci
Guimarães Júnior que se pronunciou em entrevista sobre o assunto e o papel
desempenhado pela rede de controle para contenção das fraudes e a correta
aplicação dos recursos da Educação no estado do Maranhão. Confira a entrevista:
P – O
Ministério Público Federal possui uma lista com gestores envolvidos com desvio
de recursos da Educação?
Juraci
Magalhães Júnior - Nunca tivemos e nem temos nenhuma lista. O que foi repassado
pelo Ministério Público Federal e se tornou público em reportagens e redes
sociais é que a principal fonte de desvio de recursos públicos federais no
Maranhão é o Fundeb. E que, mais da
metade dos municípios maranhenses, é objeto de investigação por alguma
irregularidade referente ao Fundeb. Se
você pegar o sistema e colocar a palavra-chave Fundeb, mais da metade dos
municípios aparecem com inquérito policial, ação penal, ação de improbidade ou
então tem ação de procedimento extrajudicial investigado pelo Ministério
Público Federal. Isso é fato correto,
considerando um intervalo de tempo amplo. Agora, individualmente tem que fazer
análise especifica para cada situação. Essa abordagem nunca houve.
P – Como o
Ministério Público pode atuar na contenção dessas divulgações que muitas das
vezes estão a serviço dos adversários políticos dos gestores?
Juraci
Guimarães - Existe um número enorme de blogueiros que se utiliza de diferentes
fontes, com informações verdadeiras ou falsas. Não temos como evitar isso. O gestor que se sentir lesado pode procurar
não somente o Ministério Público Federal, mas a Polícia Federal ou Justiça
Federal para que sejam penalizados aqueles que cometem crimes.
P – A
reportagem de veiculação nacional colocou o Maranhão como uma seara de fraudes
no censo escolar. Isso corresponde ao quadro real dos municípios maranhenses?
Juraci
Guimarães - Genericamente não podemos dizer que na maioria dos municípios do
Maranhão houve fraude no censo escolar. Não temos como fazer isso de maneira
genérica. Só podemos apontar casos de forma individualizada, ou seja, município
a município. Uma investigação não quer dizer que seja uma condenação a priori.
Como hoje existem diversas formas de acesso ao Ministério Público, seja até por
aplicativos, a toda hora chegam representações. Instalamos procedimentos quando
existem fundamentos para fazê-lo.
P – De acordo
com este sistema é possível identificar o período em que a fraude ou desvio foi
praticado?
Juraci
Maralhães - Nosso sistema não permite realizar levantamentos em escala sobre os
217 municípios, dizendo: foi esse prefeito, nessa gestão. Quando você emite uma
certidão, aparece tudo. Mas, da forma como tratamos, não era objeto da
solicitação todos esses dados. Esse não é o nosso mote. Vamos dar um exemplo:
município x aparece nessa situação. Isso quer dizer que é o prefeito atual?
Não. Pode ser um inquérito policial que investiga desvio de recursos do Fundeb
em uma licitação irregular em 2016.
Geralmente são articuladas pelos meios de comunicação ligados aos
adversários do atual prefeito. O Ministério Público não tem como entrar nessa
discussão sobre liberdade de expressão. Salvo se o gestor se sentir lesado e
comprovar que foi lesado.
P – No caso de
se sentir prejudicado política e moralmente, o gestor pode solicitar certidões
junto ao MP para comprovar idoneidade?
Juraci
Guimarães - Não adianta todos os 217 gestores entrarem com requerimento no
Ministério Público que vai dar na mesma coisa.
Como qualquer sistema da Justiça, se você coloca a palavra-chave Fundeb,
vai aparecer em torno de 300 ou 400 procedimentos. Esta é a lista pode ser
disponibilizada. Para que se emita uma certidão tem que haver toda uma
informação apurada, específica, para que se chegue a uma conclusão. Não é nosso objetivo detalhar especificamente
de quem é o inquérito. Por exemplo, um inquérito policial que é transversado na
Polícia Federal, ou uma ação penal e de improbidade que também seja alimentada
pela Justiça Federal. Pode estar no nosso sistema, mas já está encerrado.
P - Os
períodos pré-eleitoral e pós-eleição são os que ensejam maiores irregularidades
ou os procedimentos de controle são sempre os mesmos?
Juraci
Guimarães - Isso acontece com maior intensidade no final de gestões. São
aqueles casos em que os prefeitos não reeleitos deixam de prestar contas,
convênios abertos e tentam saques de documentação. O Ministério Público
Estadual vem realizando campanhas e fazendo articulações para que recursos não
sejam liberados. Começam a tomar medidas antes do final do mandato. Há também
um controle da Controladoria Geral da União. São períodos críticos que exigem
redobrada análise e investigação.
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