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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Enem 2016: professores comentam o tema da redação

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O 2º dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe como tema de redação: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Os estudantes tiveram 5h30 para produzir um texto dissertativo-argumentativo, além de responder 90 questões das provas de Linguagens e Matemática. 

A palavra "combater" na escolha do INEP para formulação da questão levantou debates e dividiu opiniões. Haveria mesmo a necessidade de um tema como este, que envolve experiência pessoal e particularidades? Será mesmo se o Brasil, como Estado laico, é de fato intolerante no aspecto religioso?

Abaixo o blog destacou os comentários exprimidos em redes sociais pelos professores de Literatura e Língua Portuguesa, Hildalene Pinheiro - coordenadora da Revisão Pré-Enem (Seduc/Piauí) e Cláudio Rodrigues - conceituado professor poção-pedrense:


"É isso, vou dar minha opinião sobre o tema da Redação ENEM 2016: "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Eu não sei em qual Brasil mora a banca que elabora a prova do ENEM. Mas o Brasil em que eu moro é assim: existe o PRECONCEITO, que agora ganhou nome de INTOLERÂNCIA, ao POBRE, ao NEGRO e aos HOMOSSEXUAIS, SIM, COM CERTEZA HÁ. Agora INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, é forçar a barra! Talvez tenham querido dizer HIPOCRISIA RELIGIOSA que é bem diferente de INTOLERÂNCIA! Queridos, o mesmo religioso que acende vela para Nossa Senhora Aparecida de manhã, está à noite batendo tambor para o Pai de Ogum num terreiro qualquer, ou está vidrado na Globo assistindo aquela novela de Reencarnação e de Vidas passadas, ou ainda tem na entrada de casa uma mandala cabalística para proteger o seu lar, ou ainda lê os livros da Zíbia Gasparetto, assiste aos filmes das Mães de Chico Xavier, e por aí vai. Não é uma prática comum no Brasil católicos apedrejarem evangélicos ou vice-versa. A madame beata que não perde uma missa na manhã de domingo também não perde uma previsão dos astros no aplicativo de horóscopo do seu smartphone, nem deixa de consultar a irmã Janaína para fazer uma fezinha para o ex-marido deixar a novinha e voltar para ela. A doidinha que não perde um baile funk se apaixona pelo filho do pastor da igreja do bairro e no dia seguinte está convertida, arrependida de todos os seus pecados. A gata sexy que posa nua nas capas das revistas masculinas lança um livro biográfico rasgando todos os seus pecados e pregando o evangelho é chamada de pastora. Aquele roqueiro adepto à vida alternativa do Raul Seixas, e que gostava de puxar um baseado na rodinha de amigos, no final da carreira vira pastor e lança um disco de música gospel. O BRASIL É ASSIM E ASSIM SERÁ. Então onde mora essa INTOLERÂNCIA RELIGIOSA no nosso 8.516.000 km² de Brasil? Que já tenha havido casos de conflitos e de atos antirreligiosos é verdade. Mas não a ponto de exigir que 8 milhões de brasileiros escrevam textos apontando saídas para resolver um problema tão ínfimo, diante de tantos outros problemas caóticos do Brasil, como por exemplo, a falta de respeito com a CONSTITUIÇÃO, a começar pela categoria cuja função é zelar pela mesma. Aí sim, teríamos EXCELENTES PROPOSTAS, pois quem tem argumento crítico e ideias renovadoras é sem dúvida a classe de estudantes do nosso vasto BRASIL. Pronto, falei."

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"Aproveitando-se do laicismo do estado, o INEP joga para bem longe a possibilidade de questionamentos de temas que pudessem dar margem para que os candidatos argumentassem algo sobre as já arranhadas situações política e governamental brasileiras, sabendo que seria muita pretensão de minha parte até mesmo cogitar que tais assuntos viessem cair. Não que o tema abordado não seja importante, visto que é polêmico e incita os candidatos a refletirem sobre como conviver com as diferenças, algo já muito discutido e ensinado nas escolas. Porém, em se tratando de questões religiosas, percebe-se que é uma questão de decisões pessoais e, quando muito, familiar seguir um ou outro credo, especialmente quando se refere ao Brasil, que possivelmente venha a ser um dos países de maior diversidade religiosa do mundo e nunca se viu falar em guerra santa por aqui. Em tempos de seca, proliferação de epidemias, aumento da violência, crise econômica, medidas impopulares, falar de assunto de cunho religioso, quando se é laico, parece bem mais cômodo e configura uma tentativa de "sair pela tangente." Muito provavelmente o termo governo e afins não aparecerão nem mesmo nas propostas de intervenção da redação."


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