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domingo, 6 de setembro de 2015

Um herói chamado Francisco

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Reprodução: Google/Francisco Erasmo morto nos degraus da Igreja da Sé
 Se ele fosse rico, famoso, um cantor sertanejo ou um político, o Brasil inteiro estaria em luto. Se ele tivesse participado de um reality show na TV, tentando ganhar dinheiro fácil, teria ouvido Pedro Bial chamá-lo de herói. Se ele não fosse um morador de rua talvez a mídia não tivesse feio tanto descaso. FRANCISCO ERASMO foi assim que ele foi identificado. Não sei se esse é mesmo seu nome e, na verdade, isso pouca diferença faz agora. Então me pego pensando no número incontável de Franciscos existentes no mundo. Aqueles por quem passamos e muitas vezes fingimos não ver, aqueles dos quais tudo que sabemos é que são "moradores de rua" e isso já é o suficiente para nós. Fico imaginando quantas vezes aquela que estava sendo vítima do assalto, talvez tenha passado por Francisco em um dia qualquer. Penso nas vezes que passamos por um Francisco e seguramos forte a bolsa, nas vezes que nos esquecemos de dizer um bom dia, ou que a pressa do dia a dia nos impede de ajudar. Penso também no quão nobre foi a atitude de Francisco e mais ainda no quanto eu talvez seja incapaz de fazer algo parecido. Sou tão pequena diante da atitude dele, sou tão fraca diante da sua força de vontade em ajudar o próximo, sou tão minúscula diante da grandeza que ele mostrou ter em seu coração. Talvez Francisco não ganhe repercussão nacional, não receba homenagens, talvez não tenha multidões em seu velório. Francisco faleceu. Mas morreu em uma atitude nobre, digna de um verdadeiro herói. Ele não deixou patrimônios para serem disputados na justiça, talvez nem família pra chorar sua morte. Mas deixou um legado muito maior. O legado da esperança. Sim, porque é isso que eu sinto quando penso em Francisco. A esperança que toca meu coração e me traz a certeza de que nem tudo está perdido. A certeza de que ainda existe bondade, amor ao próximo, dignidade. Francisco me trouxe esperança ao provar ao mundo que os verdadeiros heróis não estão no palco, na TV, no plenário, em grandes mansões ou nos gibis. Eles estão no mundo. E nesse caso, nas ruas.

Muito obrigada Francisco Erasmo, pela lição de vida. Um dia falarei aos meus filhos sobre você. E quando eles me perguntaram se eu o conheci, direi a eles que infelizmente não, mas que a forma como você morreu mostrou a parte mais importante de você. Seu coração. Descanse em paz.


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