Por Carlos
Lula / Blog do Minard
A morte da
maranhense e influenciadora digital Nara Almeida comoveu as redes sociais do
Brasil durante a semana. Foram mais de quatro milhões de seguidores que
acompanharam seu tratamento contra um raro câncer no estômago. Durante dez
meses, uma árdua batalha contra a doença. A história de Nara deu esperança a
pacientes e familiares que lutam contra a doença.
Mesmo no
momento de maiores dificuldades, Nara nunca desistiu. Sua fé na cura da doença
e crença no tratamento é o que fica como exemplo. Aliás, acreditar no
tratamento, no médico, em si mesmo e na sua recuperação são extremamente
importantes e podem ajudar, inclusive, no resultado e na cura de diversos
problemas para quem padece de alguma enfermidade.
Se você
perguntar para médicos se um deles já teve algum paciente que apresentou uma
melhora surpreendente sem recorrer a remédios ou cirurgias, certamente a
resposta será positiva. Não se trata de mágica ou alta tecnologia. Melhoras ou
curas como essas começam a ser vistas pela ciência como provas da participação
ativa da mente – com nossas emoções, crenças e expectativas – no tratamento de
uma doença física.
Uma pesquisa
realizada pela Universidade de Toronto, no Canadá, constatou que a fé pode
diminuir a ansiedade, a depressão e o estresse. Os participantes realizaram um
teste onde foram analisadas as atividades cerebrais dos indivíduos. Foi
comprovado que a crença tem um efeito calmante, cuja consequência é a
diminuição da ansiedade, bem como do medo de enfrentar o que nos parece incerto
e desconhecido. Segundo o professor que capitaneou o estudo, também foram
feitas pesquisas com Ressonância Nuclear Magnética Funcional, que demonstraram
áreas específicas do cérebro que se acendem em orações ou meditações.
Já para
Ricardo Monezzi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da
Universidade Federal de São Paulo, a fé atua em diversas áreas cerebrais,
principalmente no sistema límbico, que é responsável pelas emoções. Ela ainda
reforça o sistema imunológico, prevenindo diversas doenças.
Pesquisas
também apontam que quem frequenta cultos religiosos pelo menos uma vez por
semana tem 29% mais chances de aumentar seus anos de vida em relação àqueles
que não o fazem.
Este grupo apresentou
uma nítido diferencial, sobretudo, de comportamento. Os entrevistados que são
religiosos apresentaram um comprometimento maior com a própria saúde: iam mais
ao dentista, bebiam e fumavam menos. Em suma, tinham hábitos de vida mais
saudáveis.
Mas como nos
ensina Drauzio Varella, os mesmos fatores psicossociais que promovem os
benefícios dos placebos podem dar origem a efeitos indesejáveis, conhecido como
efeito nocebo. É o caso das náuseas dos pacientes que vomitam ao chegar no
hospital, antes mesmo de entrarem no salão de quimioterapia.
O que com isso
queremos afirmar? Que ao descobrir uma doença, é importante que o paciente não
se entregue e sempre escolha a opção de acreditar na recuperação, ser otimista
e se empenhar mentalmente e fisicamente para reverter a situação. E não precisa
necessariamente se apegar a um poder superior ou a uma religião específica, mas
acreditar em si mesmo ou até nos outros para dividir os sentimentos em relação
à doença, melhora o tratamento. O que a ciência hoje parece apontar é que a fé
pode potencializar os efeitos da medicação, porque a mente participa ativamente
do tratamento. Esse talvez tenha sido o maior legado da Nara Almeida, que lutou
enquanto foi possível contra sua doença.
Um médico não
pode prescrever bem-estar, mas pode estimular que o paciente vá em busca de
serenidade para encarar um momento difícil. Óbvio que a fé por si só não
substitui os remédios e cirurgias que existem. Como ensina Drauzio Varella,
hoje nosso maior desafio é entender como a humanização do tratamento, com
atenção, empatia do médico e palavras de conforto podem tirar partido da
neurobiologia do efeito placebo, juntamente com a prescrição dos medicamentos
de alta eficácia à disposição da medicina moderna.
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