Reprodução: Google/Francisco Erasmo morto nos degraus da Igreja da Sé |
Se ele fosse rico,
famoso, um cantor sertanejo ou um político, o Brasil inteiro estaria em luto.
Se ele tivesse participado de um reality show na TV, tentando ganhar dinheiro
fácil, teria ouvido Pedro Bial chamá-lo de herói. Se ele não fosse um morador de
rua talvez a mídia não tivesse feio tanto descaso. FRANCISCO ERASMO foi assim
que ele foi identificado. Não sei se esse é mesmo seu nome e, na verdade, isso
pouca diferença faz agora. Então me pego pensando no número incontável de
Franciscos existentes no mundo. Aqueles por quem passamos e muitas vezes
fingimos não ver, aqueles dos quais tudo que sabemos é que são "moradores
de rua" e isso já é o suficiente para nós. Fico imaginando quantas vezes
aquela que estava sendo vítima do assalto, talvez tenha passado por Francisco
em um dia qualquer. Penso nas vezes que passamos por um Francisco e seguramos
forte a bolsa, nas vezes que nos esquecemos de dizer um bom dia, ou que a
pressa do dia a dia nos impede de ajudar. Penso também no quão nobre foi a
atitude de Francisco e mais ainda no quanto eu talvez seja incapaz de fazer
algo parecido. Sou tão pequena diante da atitude dele, sou tão fraca diante da
sua força de vontade em ajudar o próximo, sou tão minúscula diante da grandeza
que ele mostrou ter em seu coração. Talvez Francisco não ganhe repercussão
nacional, não receba homenagens, talvez não tenha multidões em seu velório.
Francisco faleceu. Mas morreu em uma atitude nobre, digna de um verdadeiro
herói. Ele não deixou patrimônios para serem disputados na justiça, talvez nem
família pra chorar sua morte. Mas deixou um legado muito maior. O legado da
esperança. Sim, porque é isso que eu sinto quando penso em Francisco. A
esperança que toca meu coração e me traz a certeza de que nem tudo está
perdido. A certeza de que ainda existe bondade, amor ao próximo, dignidade.
Francisco me trouxe esperança ao provar ao mundo que os verdadeiros heróis não
estão no palco, na TV, no plenário, em grandes mansões ou nos gibis. Eles estão
no mundo. E nesse caso, nas ruas.
Muito obrigada
Francisco Erasmo, pela lição de vida. Um dia falarei aos meus filhos sobre
você. E quando eles me perguntaram se eu o conheci, direi a eles que
infelizmente não, mas que a forma como você morreu mostrou a parte mais
importante de você. Seu coração. Descanse em paz.
Texto de Anne Alyne Brito Mendes
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